terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

André NAscimento - Não esperem coerência num artista

A primeira vez que teve contato com a arte foi quando pegou uma vassoura e fingiu ser uma guitarra elétrica e colocou-se a cantar em frente ao espelho. Fazendo caras e bocas, tentava imitar os ídolos do rock nacional dos anos oitenta. A mãe quase teve um troço. Depois foi gostar de ler. Um tal de Leminski o encantou com sua simplicidade. Desde então nada seria o mesmo. Pôs-se a escrever. Escrever poesia foi a primeira aventura que o arrebatara. A partir de então não parou mais. E, por isso mesmo, em 1998 entrou no Conservatório de Música de Teófilo Otoni e, também por isso, dois anos depois, na Faculdade de Letras da Fenord e foi ser gauche na vida. Formou-se em Letras e na bebida buscou esquecer. Estava tudo armado. Música e Letra. Faltava a dança. Viria mais tarde. Montou uma banda de rock, Elite Etílica. (Os nomes de suas bandas eram mesmo estranhos). Fez apresentações pela cidade e região. Descobriu que nascera para a arte. A inquietação não o perdoou. Em 2004, lançou o livro “Insanidade & Coração”, uma coletânea de poesias, crônicas e canções. Assim que se formou foi ser professor. O que não deixa de ser uma arte. A nobre arte de ensinar. E mais que ensinar: Inspirar pessoas. Em 2009, inventou o impensável. Uma banda de axé e samba duro chamada “Os Rollas da Bahia”, (Não disse que inventava nomes estranhos para as bandas). Arrastou dezenas de pessoas a cantar e a dançar ritmos baianos e letras de duplo sentido. A dança viera enfim. Brincou disso por uns dois anos. Há quem pense que ele se arrependeu disso ou, até hoje, envergonhe-se de alguma forma. Enganam-se. Orgulha-se. “Os Rollas da Bahia” é o que podemos chamar de a Fuleragem Cult inserida no contexto da música regional. Querem um conselho? Não esperem coerência num artista. Segundo Mário Quintana, quem faz sentido é soldado. A música o entorpeceu. Mas a paixão por escrever, apesar de adormecida, estava ali guardada. Em 2013, depois de estudar psicanálise, publicou o livro “A psicóloga e o Poeta”, um romance poético e ao mesmo tempo científico sobre mais inquietações humanas do que sobre os personagens em questão. Em 2014 voltou a escrever semanalmente num jornal local. Revisitou algumas de suas músicas perdidas, mas nunca abandonara a educação. Pelo contrário, sempre fez questão de, sempre que podia, intrometer alguma arte, seja música, cinema ou teatro, no meio das suas aulas. Por muito gostar de educação resolveu fazer palestras e pôs-se a sair por aí para inspirar outros professores a entender que os rumos da educação mudaram. A partir destas palestras, escreveu o livro “Neuroescola – Os Novos Rumos da Educação”, que ainda será publicado em 2015. A paixão pela escrita era demasiadamente presente. Tanto que já tem mais dois livros praticamente terminados. “Como Todo Mundo”, crônicas a respeito de como é todo mundo mesmo, ou um maravilhoso trocadilho pra quem é guloso demais. E, “A princesinha e o Reizinho”, um livro infantil sobre o que aprendera da vida com seus filhos. Fora os dois livros que estão por vir, em 2015 lançará seu primeiro CD com canções autorais. Provisoriamente intitulado “Canções do Mar”. O CD vai ter participação de vários artistas da Terra. (E de outros planetas também, rs). André Nascimento ainda trabalha com arte, educação e cultura e não pretende abandoná-las por tão cedo. Acredita que todas essas coisas não sejam um espelho que reflita a vida, mas sim as ferramentas para consertá-lo.


Poema extraído do livro Insanidade & Coração de 2004.

Saudade

Saudade é sentimento doido
Varrido pelo vento da solidão
Escurece até as mais claras noites
Entristece sonhos loucos de paixão

Saudade é o apertar do peito
É o defeito que devemos esquecer
Esquecer como? Isso não tem jeito
A saudade fere, só nos faz sofrer

Saudade dói, desvanece a alma
É o precipício dos carentes
A saudade deixa o coração doente

Mas é melhor sentir saudade
Do que o vazio de não ter lembrança
Saudade é prova que ainda há esperança

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