quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sara Andrade - Brasa Viva


Como se tivesse achado um pote de ouro ou até mesmo um mundo novo, como Alice no país das Maravilhas, o encontrou. Um mundo cheio de fantasias, sonhos, loucuras e liberdade: TEATRO!
Tudo começou com um inocente grupo religioso que saía para demonstrar o amor do seu deus de uma forma inovadora dentro daquele cenário ditador que era a instituição ao qual pertenciam. Sentiu o gosto... Gostou!
"Aula experimental em nossa escola...". Sem pensar duas vezes foi!
Como um bebê na novidade dos primeiros passos, ela avistava cada detalhe do local e se encantava. Entrou então para a aula de circo. Malabares, monociclo, clown, perna de pau: MAGIA!
Ela sabia o que queria, ela tinha se encontrado. A partir desse primeiro contato nunca mais quis parar. A arte lhe mantinha viva... A morte que lhe cercava como um ato de refúgio desaparecia a cada verso, cena e a cada música que ousava cantar.
Hoje alguns anos após a descoberta da chama que a incendeia todos os dias ela só consegue pensar uma coisa: "Deixe queimar, deixe arder. Dê fogo para incendiar ainda mais, não deixa a brasa morrer".

 Minha Grande Riqueza 

Quando eu nasci ela descobriu o problema no coração, teve que operar. Então minha mãe não podia me pegar no colo ou me dar de mamar. Ela sofria muito com isso. Então quando cresci ela me colocava no colo dela para recompensar o tempo que ela não pode me pegar... Com o passar dos anos fui me desapegando do meu pai e me via totalmente cúmplice dela. Viajávamos escondidas para irmos para caravanas da igreja, saiamos. Onde eu estava ela estava. Eu achava isso ótimo. Lembro uma vez que fui sair, com meu primeiro namoradinho rs, ela deixou roupas de dormir na varanda para eu trocar la mesmo e meu pai não perceber que eu tinha chegado tarde. Rsrsrs. Ela cuidava muito de mim e eu dela. Adorava vê-la trocando de roupa rs, queria meu corpo igual o dela. Quando ela morreu, fiquei quase um ano sem acreditar, chegava da aula e ia no quarto dela imediatamente ver se ela tava la deitada lendo ou na cozinha fazendo o almoço como sempre. O sorriso dela era o mais lindo do mundo. E adorava fotos rs. Ajudava todo mundo, eu as vezes tinha ate raiva disso, porque ela sempre se doou muito e era retribuída com pedras sabe. Sei que ela sofreu muito. Mas raramente deixava transparecer, eu so ouvia os choros era ela no quarto trancada. Eu ia e fazia cafune nela. Gostava de brincar com a barriga dela, cheirava massa de pão e brincava de padeiro rs. Era tao bom... Ela era tao unica e com um espirito tao alegre e jovial.
Na UTI fiquei um mês e pouco sem ver ela, ela não queria que eu a visse naquele estado. Ate que não aguentou mais e pediu os médicos que me deixassem entrar. Inchada no corpo e com o rosto muito magro e eu dizia que ela estava linda. Quando ela foi pro quarto demos banho nela na cadeira e lavamos o cabelo e o arrumamos, foi um alivio pra ela. Ela sempre foi bem ligada com a beleza dela. Que era de fato encantadora e muito invejada. Era simples, alegre... Eu a amava muito, e amo.

A música é a minha conexão com ela... Canto pra ela, minha mãe. Quando canto é o único momento que a sinto viva de verdade em mim. A música é o que me traz a vida de quem me deu a vida.

3 comentários:

  1. Nossa, me emocionei. Escreveu lindamente e tocou-me, te admiro! Parabéns pelo que você é e nunca perca a sua essência. Sarinha linda..

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  2. Texto simples e lindo.Sua mãe é linda.

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  3. Texto simples e lindo.Sua mãe é linda.

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