sábado, 20 de agosto de 2016

Análise de Espetáculo Tênue - Por: Adélia Carvalho / Mostra InMinas

INSÓLITO CIA DE TEATRO - Teófilo Otoni

Tênue

Análise de Espetáculo 
Por: Adélia Carvalho

Tênue é um espetáculo intenso, bem cuidado, com boas atuações, trilha sonora bem trabalhada, cenário cuidadoso e uma direção potente.

A dramaturgia bastante crítica e envolvente se intensifica pela batuta de uma direção de mão firme, numa quase coreografia de movimentos que aplica ritmo e intensidade às cenas. A condução dos atores para a construção de corpos bem definidos utiliza-se intencionalmente do exagero e esses códigos corporais acionados são desmontados, muitas vezes, diante do espectador, o que quebra habilmente com o envolvimento emocional e o obriga a retornar à posição crítica e reflexiva exigida pela obra.

A trilha sonora, tão bem executada ao vivo por Gleicy Mota e Mayara Cruz, remete a ícones da música nordestina e brasileira em geral e convém muito bem às cenas. A execução é potente, bem trabalhada, com uma variedade de instrumentos e grande ousadia ao nos provocar, de forma tão competente, com a mistura, por exemplo, de um berimbau e um violino, num diálogo entre o popular e o clássico.

Os quatro atores Brendon Souza, Daniele Souza, Emanuelle Viana e Thiago Miranda formam um conjunto bastante equilibrado, dinâmico, com completo domínio vocal, percepção do outro e do espaço, numa construção bastante uníssona que demonstra controle do jogo de cena e generosidade na relação com o espectador.

O ator Brendon Souza permite-nos entrever, além de um domínio corporal que lhe permite clareza na variação das personagens construídas, uma percepção de tempo singular que expande sua comicidade.

A atriz Emanuelle Viana engenhosamente seduz o espectador, aos poucos. Destaque para a cena em que o avô manda que a menina repita com alegria “Eu não ‘to’ com fome”, na qual somos completamente levados pelas suas dificuldades, ingenuidade e esperança. A menina que espera o político Juvelino leva-la para o “sol fraco” nos faz seguir com ela a jornada de esperança que será soterrada pela vinda da chuva tão esperada.

Todo o clima de reflexão, engajamento, posicionamento crítico e desejo de mudança de um olhar, almejado pela mostra InMinas, foi muito bem representado pelo último espetáculo da programação. Tênue demonstra, não só em cena, mas também no fala final da diretora e autora Mayara Cruz, uma grande afinação com o discurso que culminou na realização dessa mostra: o interior não é menos, ele é tão importante, ativo e potente quanto a capital, diferenças existem no que se refere ao acesso às informações, formação etc; mas, as dificuldades enfrentadas, seja no interior ou na capital, se por um lado travestem-se de diferentes roupagens, por outro são iguais nos prejuízos causados, que vêm dificultando o trabalho, a manutenção e sustentação de todos os grupos em todos os lugares. Por isso a importância de uma mostra como essa, de um encontro que vem lembrar que somos um só teatro de Minas Gerais que se fortalece, fortalecendo ao outro e se permitindo conhecer e se apropriar e/ou respeitar as diferenças e especificidades. Que possamos aprender no diálogo, na troca de experiências e na relação com o que nós e o outro temos de melhor a ensinar para dividir, e consequentemente, multiplicar as potencialidades de um teatro de toda Minas Gerais.

Que essa seja a primeira de muitas Mostra InMinas! Evoé, uai!

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